terça-feira, 13 de setembro de 2016

Rogério Salgado Dá Adeus à Ribalta * Antonio Cabral Filho - Rj

Rogério Salgado Dá Adeus À Ribalta
-mgpoetasdelmundo-
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"CARTA ABERTA AOS AMIGOS (OS VERDADEIROS) 
E AOS QUE ACOMPANHAM MINHA CARREIRA, 
EM RESPEITO A ELES.
Tenho recebido algumas cobranças para participar de debates e lutas pela poesia independente e pela cultura na capital mineira, assim como de ter minha participação em vários eventos ligados a esses segmentos. Nesses 41 anos de carreira literária e 62 anos de vida bem vividos e bem lutados, ajudei muito a cultura em Campos dos Goytacazes\RJ, minha cidade natal e em Belo Horizonte\MG, cidade na qual resido hoje e tenho consciência disso. 

Na década de 70, em Campos dos Goytacazes, participei de um jogral criado pelo diretor de teatro e dramaturgo Orávio de Campos Soares, para o Teatro Escola de Cultura Dramática, grupo do qual eu fazia parte e apresentávamos nas praças, com textos combatendo a ditadura militar vigente na época, depois criei com amigos poetas o Grupo Abertura de Artes e Estudos e fazíamos movimentos nas ruas e principalmente no Boulevard Francisco de Paula Carneiro, levando poesia para o povo, também combatendo a ditadura. Em 1979 participei como um dos cabeças da semana “Arte para o povo em tempo de abertura”, com teatro, poesia, etc, com apresentações gratuitas no Teatro de SESC. 
Em Belo Horizonte, na década de 80 publicávamos, eu, Virgínia Reis e Wagner Torres a revista Arte Quintal, na qual buscávamos artistas independentes e colocávamos na nossa revista. Na capa, como estratégia de marketing, tinha um artista famoso, fazendo com que as pessoas comprassem a revista e depois de lerem esses artistas, caiam nas páginas do artista independente, conhecendo-o. Vendíamos até as coisas pessoais para publicar a revista e depois saíamos à noite vendendo-a de mão em mão, recebendo elogios e humilhações nos bares da capital. Nos anos 80, fui um dos cabeças do Movimento que brigou para que a Fazenda Giannette, na região do bairro Itapoã, em Belo Horizonte, não se transformasse em mais um conjunto habitacional e graças a essa luta, hoje existe o Centro de Referência da Cultura Popular e Tradicional Lagoa do Nado, espaço ecológico aberto ao público. Depois, em 2000 junto com outros poetas, ajudei a criar o Sarau da Lagoa do Nado, primeiro sarau em Centro Cultural na capital mineira. Em 2005 criei com Virgilene Araújo, o Belô Poético – Encontro Nacional de Poesia de Belo Horizonte, evento este que reunia na capital mineira, poetas de diversos estados do país e até do exterior. Lutávamos muito anualmente para a realização desse evento, o qual era aberto espaço para debates sobre os caminhos da cultura em Belo Horizonte e no país e apesar de contarmos com uma equipe de poetas amigos que nos ajudavam voluntariamente, já que até cheguei a tirar dinheiro do bolso para a concretização desse evento, dos mais de cem poetas que vinham por conta própria de vários estados desse país, apenas uns doze a quinze poetas belorizontinos no máximo, compareciam ao Encontro. Em 2014, fizemos o 10º Belô Poético e decidimos encerrar o Encontro, para cuidarmos das nossas vidas, com a certeza de que essa seria a melhor decisão que havíamos tomado naquele ano. Também criei e realizei com Virgilene Araújo o projeto Poesia na Praça Sete, que teve cinco edições, projeto esse realizado com os benefícios da Lei Municipal de Incentivo a Cultura de Belo Horizonte entre 2006 e 2011 e que foi considerado por um jornalista de Brasília como o projeto de poesia mais democrático da história deste país. Convidávamos poetas para participarem profissionalmente e pagávamos cachês para eles, como também abríamos espaços para advogados, políticos, vagabundos, mendigos, pivetes com latas de cola, moradores da rua e tantos mais, recitarem o que quisessem no microfone.
Em 2014 publiquei meu livro de memórias “Poeta Ativista” comemorando 40 anos de carreira literária e hoje consigo sobreviver de poesia de forma independente e honesta, sem precisar da Fundação Municipal de Cultura, da Secretaria de Estado da Cultura, do Ministério da Cultura, da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte, das Leis de Incentivo, da Bienal do Livro de Minas Gerais, a qual adoro ir como público e de nenhum outro órgão municipal, estadual ou federal. Por isso decidi que vou dar um tempo de eventos e movimentos culturais na capital mineira e eu mereço esse tempo, por tudo que já fiz e construí. Estarei fora do circuito cultural de Belo Horizonte até achar que devo voltar, com exceção da Exposição Glória, homenagem ao centenário de minha mãe, pianista Glória Salgado, a qual levarei mensalmente até agosto de 2017, em vários espaços da capital mineira; as oficinas de Conhecimentos Poético-Musicais, que ministro profissionalmente e mensalmente em Centros Culturais de BH, trabalho profissional no qual sou patrocinado por amigos para realizá-lo, cuja próxima oficina será realizada no Centro Cultural Pampulha, dias 16, 23 e 30 de setembro, às 19 horas e o Feira de Poesia, evento realizado pela poeta Bilá Bernardes no Centro Cultural Padre Eustáquio, pertinho de onde moro, nas últimas quintas-feiras do mês, pela enorme amizade e respeito que tenho por ela. Não deixarei de escrever meus poemas, para daqui a alguns anos – se Deus o permitir – publicar meu próximo livro, assim como só aceitarei convites profissionais - já que sou poeta profissional – para participação em eventos na capital mineira e em outros estados brasileiros.
Como cidadão brasileiro, me aposento daqui a três anos e quero talvez, cultivar uma horta no quintal da minha futura casa.
No mais, meus amigos, até breve.
Rogério Salgado"

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